A Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), é o termo que designa uma das alterações ao “normal” desenvolvimento do sistema nervoso, ou seja, é uma neurodivergência.
Esta condição caracteriza-se por três sintomas clássicos tais como, a dificuldade em estar atento, a dificuldade em estar parado e a dificuldade em controlar impulsos.
A sua etiologia é multifatorial, podendo ser a combinação de fatores genéticos e ambientais, ainda que seja maioritariamente hereditária.
A PHDA não é uma condição estritamente infantil como antigamente se julgava. O que acontece, é que existe um declínio de alguns sintomas, mas, em mais de metade dos casos, tende
a prevalecer ao longo da vida. O que é facto, é que devido à complexidade do diagnóstico, a condição nem sempre é detetada durante a infância trazendo consequências na vida adulta.
Ultimamente, a procura do diagnóstico por parte de pessoas adultas tem aumentado.
Os principais motivos para esta procura relacionam-se com a falta de produtividade laboral e problemas emocionais. Curiosamente, muitos destes pedidos de avaliação surgem também após a receção do diagnóstico de um filho/a em idade escolar. Ou seja, ao ser explicado que tais características podem ser hereditárias, muitas vezes um dos progenitores identifica-se com os sintomas descritos.
Os critérios centrais para o diagnóstico são muito idênticos entre crianças e adultos, no entanto, no adulto os sintomas apresentam algumas variações na sua manifestação fruto das mudanças contextuais da passagem para a vida adulta.
Assim, um adulto com PHDA demonstra a sua hiperatividade com uma constante sensação de agitação interior, uma constante falta de tempo, têm necessidade de estar sempre ocupados, podendo tornar-se workaholics, demonstram dificuldade em permanecerem sossegados ou calados por longos períodos, têm dificuldade em relaxar e muitas vezes sofrem de distúrbios do sono. Isto não lhes permite suportar profissões monótonas nem tarefas burocráticas, sendo comum um adulto com tal condição mudar frequentemente de emprego.
Por sua vez, os sintomas de desatenção manifestam-se na dificuldade em manter o foco numa tarefa distraindo-se com qualquer estímulo, dificuldade em terminar atividades, atingir objetivos
e cumprir prazos. Definir prioridades, organizar, planear e tomar decisões são verdadeiros desafios para estas pessoas que, com frequência mudam de atividades, perdem-se em pormenores, dispersam-se nas conversas, adiam tarefas, esquecem-se e perdem coisas facilmente.
No entanto, muitos destes indivíduos relatam episódios pontuais de Hipérfocus. Ou seja, existem situações de grande interesse pessoal, que conseguem prender a atenção da pessoa durante horas a fio. Isto acontece porque o problema está em conseguirem gerir a atenção de forma adequada.
Pessoas com PHDA, com frequência agem sob o impulso do momento em resposta a estímulos imediatos, tomam decisões precipitadas e falam e agem sem pensarem. Como exemplo, podem iniciar e terminar atividades ou até relacionamentos de forma impulsiva devido à sua necessidade de mudança e de experimentarem sensações fortes que tragam gratificação imediata.
Acresce que, indivíduos com PHDA têm consciência que algumas das suas características lhe trazem disfuncionalidade. Essa perceção acarreta outros sintomas de carater emocional e social.
Por outras palavras, estas pessoas podem apresentar alterações de humor frequentes, dificuldade em gerir emoções e baixa tolerância à frustração. Os problemas sociais como o isolamento, a falta de autoestima ou a autossabotagem, devido a vergonha ou medo de falharem, também são comuns.
O estigma e a crítica também contribuem para estes problemas sociais, pois o desconhecimento, leva a que estas pessoas sejam, com frequência, rotuladas como desviantes ou preguiçosas.
O que é facto, é que tais julgamentos, juntamente com a precessão do próprio sujeito das suas dificuldades poderá levá-lo a recorrer a estratégias de enfrentamento pouco adaptativas como o consumo de álcool, de substâncias psicoativas ou outros comportamentos de risco.
Por outro lado, grande parte dos adultos com PHDA são inteligentes e altamente criativos. Estas características são o resultado da sua “hiperatividade mental”, isto é, um afluxo de ideias abundante e continuo num cérebro inquieto e sempre disposto a imaginar algo novo.
Infelizmente, muitas vezes são incapazes de materializar essa criatividade pois têm tendência a fazerem várias atividades em simultâneo ou a perderem o interesse pelas anteriores.
De acordo com o descrito, compreende-se que um diagnóstico de PHDA vem, com frequência, acompanhado de outras patologias como a ansiedade, a depressão ou perturbações de personalidade. Tais diagnósticos podem até ser confundidos sendo que muitos sintomas são comuns às várias condições.
Nesse sentido, a avaliação deve ser feita por um profissional treinado e devidamente qualificado, tal como um psicólogo clínico, um neuropsicólogo ou um médico. O acompanhamento psicoterapêutico da pessoa com PHDA tem como objetivos a atenuação dos sintomas, bem como o aprender a lidar com eles, e ainda a adoção de estratégias de coping adaptativas. Isto poderá ser conseguido através da psicoterapia cognitivo comportamental ou de terapias de terceira geração. Em muitas situações, é necessário complementar a psicoterapia com medicação.
A PHDA encontra-se subdiagnosticada nos adultos e tem impacto significativo na qualidade de vida dos seus portadores quer a nível laboral, como social e emocional, pois estas pessoas não se adaptam ao que a sociedade exige ou entende como normal.
Antes de terminar, é importante salientar que, referirmo-nos à PHDA como uma perturbação, uma doença ou um problema é questionável. Trata-se apenas de pessoas com características diferentes pois o seu cérebro também funciona de forma diferente, e isso não significa que funcione da forma errada. Uma pessoa com tais características e com um cérebro altamente “pensante” poderá ser uma mais-valia quando colocada no ambiente certo. Afinal, grande parte da evolução e da história da humanidade fez-se pelas mãos de muitos génios neurodivergentes. O diagnóstico, mesmo que tardio, muitas vezes traz alívio e autoconhecimento ao levar a pessoa a compreender muitos porquês até então inexplicáveis.
Ao identificar-se com alguns dos sintomas aqui apresentados e se considerar que tais características poderão estar a limitá-lo poderá procurar um profissional.
Artigo escrito por:
Sandra das Neves Henriques
Psicóloga Clínica,
Pós-graduada em Neuropsicologia.
Espaço Psicológico, Coimbra
Novembro de 2024
Fontes:
American Psychiatric Association (2023). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed. revised text).
Magnin, E., & Maurs, C. (2017). Attention-deficit/hyperactivity disorder during adulthood. Revue Neurologique, 173(7-8), 506
515.doi:10.1016/j.neurol.2017.07.0